Uma das
atividades do saneamento ambiental municipal é aquela que contempla a gestão de
resíduos sólidos urbanos, tendo por objetivo fulcral melhorar ou a
manter a saúde, isto é, o bem estar social, físico e mental da comunidade.
A gestão de resíduos sólidos urbanos deve ser integrada,
ou seja, deve englobar etapas articuladas entre si, desde a não geração até a
disposição final, com as atividades compatíveis com as dos demais sistemas do
saneamento ambiental, sendo essencial a participação ativa e cooperativa dos sectores
público, privado e população em geral. Ademais, a gestão deve conferir uma
sustentabilidade ao sistema, isto é, ser apropriada às condições locais, viável numa perspectiva técnica, ambiental, social, económica, financeira,
institucional, política e podendo-se manter no tempo sem esgotar os recursos
dos quais o sistema depende.
Para responder o anseio da gestão de resíduos é
importante a elaboração de Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos
Urbanos (PGIRSU) com base nas informações gerais sobre o
município e diagnóstico da situação atual dos serviços do sistema de limpeza
urbana. Na elaboração deste plano, procura-se, entre outros aspectos,
desenvolver um planeamento de médio e longo prazos, visando otimizar ações
gerais e específicas das diversas atividades associadas à Gestão dos Resíduos Sólidos (GRS), bem como agregar modelos funcionais para as diferentes fases do
sistema, incluindo coleta, transporte, tratamento e destino dos resíduos que
reduzam os impactos ambientais e otimizem o investimento e custos operacionais.
De salientar que, olhando para o Município
de Maputo que é a cidade capital de Moçambique, pode-se inferir que quase todas
as fases do sistema (desde a "não geração" até a disposição final) estão distante do
almejado (Figura 1). Esta situação não se verifica com a mesma intensidade nos
demais municípios do país, apesar desses também não possuírem sistemas de
gestão eficientes, talvez a menor densidade populacional nesses municípios quando
cotejados com a capital do país concorra para tal diferença.
Figura
1:
Situação atual da gestão dos resíduos sólidos em Maputo
Contudo, os municípios com maior produção
de resíduos sólidos por dia, como o de Maputo, justificado pela concentração de
diversas atividades potencialmente produtoras de resíduos, a falta de um PGIRSU
operativo e outros fatores, exorta-se que estratégias e ações em vigor sejam
melhoradas ou substituídas por outras que respondam de forma eficaz e eficiente
à dinâmica atual.
No que tange a disposição final dos
resíduos sólidos, os municípios moçambicanos devido ao défice financeiro e
outras adversidades, concorrem para falta de Aterros Sanitários, sendo utilizadas
lixeiras a céu aberto para o efeito, apesar de esta medida ser atualmente
desaconselhada olhando para as premissas ambientais. Noutra vertente, a
incineração que é outro método de disposição
final, aplicada a certos resíduos que não podem ser reciclados, reutilizados ou
depositados com segurança em aterros. Contudo, vários países em
desenvolvimento como Moçambique, geralmente, este processo resume-se apenas na
queima dos resíduos sem controle dos gases gerados durante o processo, isto é,
sem garantir a emissão de gases que atendam os limites máximos de emissões
preconizados na legislação ambiental em vigor.
A destacar que para o Município de
Maputo, a construção de aterro sanitário figura como uma prioridade de curto
prazo, embora a situação económica possa ser citada como obstáculo, mas um
investimento neste sentido seria mais valia para o Município. Uma alternativa
que pode ser viável de ponto de vista económica é a gestão compartilhada de
resíduos sólidos, neste caso, a construção e operação de um aterro sanitário para
servir os municípios de Maputo e Matola talvez fosse viável, visto que a localização
geográfica é favorável.
No entanto, há necessidade de valorizar
os resíduos sólidos, isto é, enfatizar-se a baixa geração, a reutilização e a reciclagem.
Reconhece-se que a baixa geração é uma medida de difícil alcance para realidade
dos países em desenvolvimento, pois depende da consciência e grau de instrução
de cada cidadão, mas acredita-se que com ações de educação ambiental, possa-se
inverter o atual cenário. A despeito disto, destacam-se iniciativas de louvar como,
“Limpa Moçambique” que através da rede social facebook vai mobilizando e sensibilizando a população moçambicana sobre a problemática dos resíduos sólidos, com destaque para as praias do país. Nesse contexto, a organização está a desenvolver ações voluntárias de intervenção nesses locais, sendo a Praia do Costa do Sol o ponto de partida escolhido na primeira fase e espera-se que sirva de exemplo para os outros pontos do país. Por outro lado, destaca-se o trabalho que tem sido desenvolvido nas
diferentes praças do país por alguns organizadores de eventos de
entretenimento. Por exemplo, no espetáculo intitulado “Moçambique e Angola” que
teve lugar na Praça de Liberdade em Janeiro de 2013, cujo autor deste texto juntou-se
a equipe mobilizada para garantir a limpeza no local (embora não estivesse
devidamente equipado para o efeito), onde contribuiu com a ideia da coleta
seletiva (Figura 2). Assim, o autor saiu do local com boas ilações sobre o
assunto, pois constatou que em menos de meia hora depois do evento, o local
estava livre dos resíduos sólidos. Este episódio permite inferir que com a
mudança de atitude podem-se alcançar resultados fantásticos neste desafio de
manter as cidades limpas.
Figura
2:
A equipe de limpeza e o autor desenvolvendo coleta seletiva
Finalmente, a reutilização e reciclagem mostram-se
importantes, olhando para a maior percentagem dos resíduos sólidos que convivem
com os citadinos de Maputo e de outras cidades da apelidada “Pérola do Índico”.
Porque a maioria desses resíduos apresenta potencialidade para a reutilização e
a reciclagem conforme vislumbra-se na Figura 3. Por outro lado, essas técnicas
podem contribuir consideravelmente para a redução da quantidade de resíduo que
fosse diretamente para o destino final caso não passasse destes processos e
consequentemente culminar com a redução da vida útil do aterro.
Figura
3:
Alguns resíduos sólidos encontrados na cidade de Maputo
No que concerne ao processo de
incineração, por envolver custos de implementação elevados quando comparado ao
aterro sanitário, olhando para a situação atual de Moçambique pode ser inviável o uso de incineradoras que operem a curto prazo ao nível municipal. Não obstante que
a médio ou longo prazos conste nos planos da gestão dos resíduos sólidos,
justificando-se a necessidade de cooperação entre várias entidades com
principal enfoque às multinacionais presentes no país com intuito de transpor a
questão financeira.
Os distritos e municípios de pequeno porte que na
sua maioria apresentam menor quantidade de resíduos sólidos produzidos em
comparação as cidades e os municípios de grande porte, devem ser equacionadas ações com vista
a inverter a atual situação e adequar o sistema de gestão de acordo com os desafios emergentes.
Assim, as tecnologias alternativas e localmente viáveis podem fazer diferença na disposição
final dos resíduos gerados. Pois, as tecnologias simples, mas eficientes, tais
como a compostagem, digestão anaeróbica, disposição final em trincheiras,
aterros controlados entre outras que garantam o saneamento ambiental podem ser
projetadas, operadas e monitoradas por funcionários locais ou municipais sem muitos
gastos de material e recursos humanos altamente qualificados, mas com grandes ganhos ambientais.
interessante matéria. parabéns
ResponderEliminarinteressante matéria. parabéns
ResponderEliminarMuito util
ResponderEliminarMuito oportuno e interessante!.. Estamos de parabéns.
ResponderEliminar