BACIAS HIDROGRÁFICAS TRANSFRONTEIRÍÇAS, UMA OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO OU A JANELA DE DESGRAÇA PARA MOÇAMBIQUE
A
maioria da população mundial depende da água proveniente das bacias
hidrográficas compartilhadas entre dois ou mais países, sendo Moçambique um
exemplo desta realidade. Naturalmente que a demanda de água vai
observando um crescimento em quase todo o mundo como consequência do aumento da
população, expansão urbana, o desenvolvimento industrial, a agricultura
irrigada, turismo, o estilo de vida no que tange a mudança de hábitos
alimentares e as mudanças climáticas, concorrendo para a pressão dos recursos
hídricos e ecossistemas. Neste contexto,
todos os intervenientes querem usufruir das bacias transfronteiriças para
responder as questões social, econômico e ambiental, num clima de instabilidade
financeira e futuro repleto de incertezas, emergindo um desafio para todos.
Perante esta realidade é necessário que haja
cooperação entre os países para se lograr o maneio sustentável deste recurso.
Neste
âmbito, os países pertencentes à Comunidade para o Desenvolvimento da África
Austral (SADC) deram o primeiro passo rumo ao alcance da integração do uso e
gestão regional de recursos hídricos, acordado no Protocolo sobre Sistemas Compartilhados de Cursos de Água em 1995,
que foi revisto em 2000. O protocolo revisto sobre cursos de água
compartilhados entrou em vigor em 2003. A região procurou maximizar os
atributos da gestão compartilhada da água ao minimizar o potencial para
competição ou conflito sobre este recurso. Este protocolo está sendo executado
através do Plano de Ação Estratégico Regional (RSAP) para a gestão dos recursos
hídricos e desenvolvimento (MAFUTA, 2013).
No
concernente a Moçambique, a Direção Nacional de Águas (DNA) pertencente ao
Ministério das Obras Públicas e Habitação (MOPH), zela pela área ao nível nacional.
A despeito disso, a DNA traça políticas e estratégias com vista a responder os
anseios sobre o assunto a nível nacional, havendo necessidade das ações levadas
a cabo estarem em consonância com as da região (SADC). Isto
pode ser testificado através da seguinte assertiva:
“As
bacias hidrográficas partilhadas são da maior importância para Moçambique visto
que representam mais de 50% dos recursos hídricos do país. O planeamento
conjunto e acordos entre os países da bacia são os instrumentos a utilizar para
cumprir os princípios do Protocolo da SADC, mormente no tocante ao avanço na
agenda da SADC sobre a integração regional e alívio da pobreza, à unidade e
coerência da bacia hidrográfica partilhada e da utilização da bacia por cada
Estado duma forma equitativa e razoável” (DNA, 2007).
Entretanto,
o país ainda enfrenta dificuldades na materialização de muitos dos objetivos preconizados no manual das suas políticas, como por exemplo:
“Nas
cidades e vilas afetadas pelas cheias serão construídos ou reforçados diques
de proteção. Os diques estarão sujeitos a inspeções regulares e manutenção
pelos seus proprietários, com monitoramento a ser feita pelas administrações
regionais de águas, porque poderão desenvolver-se secções enfraquecidas que
serão pontos de rotura durante as cheias” (DNA, 2007).
Sobre a afirmação da DNA anterior inerente
as infraestruturas hidráulicas, onde Moçambique apresentava-se como o mais
fraco da região até a data da publicação do manual que tem sido citado, importa
salientar que volvidos mais de cinco anos o país ocupa a mesma posição e, para
corroborar com esta assertiva destacam-se as cheias e secas cíclicas no país.
As inundações registadas em Janeiro e
Fevereiro de 2013 em quase todas regiões do país, com maiores impactos
negativos no distrito de Chókwe, província de Gaza, onde destruiu quase tudo naquele distrito incluindo a perda de vidas humanas. Por
outro lado, as cheias aconteceram num momento em que o país relançava a produção
em grande escala de Arroz, Trigo, Milho entre outras culturas. Tomando como
referencia a baixa de Limpopo em Xai-Xai, Província de Gaza, relançava-se a produção em grande
escala de Arroz com envolvimento de investimento Chinês e o investimento local de pequenos agricultores na produção de milho. No entanto, tudo faz parte de “investimento
perdido” como vislumbra-se na Figura 1, esta situação obsta de certa forma os esforços envidados para combater a pobreza.
Figura 1
– Campos de arroz na baixa de Limpopo, Xai-Xai durante as inundações de 2013
Diante
desta realidade, uma questão dentre várias outras emerge: até que ponto
Moçambique estaria preparado para uma gestão integrada de recursos hídricos
olhando para a sua localização geográfica (jusante de cursos de água
internacionais) e o panorama atual da região?
Acredita-se
que “vale mais prevenir do que remediar”
como defende o próprio lema do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades
(INGC), porém o que se tem verificado é a mitigação dos efeitos quase sempre
nesta pérola do índico. Para a prevenção de cheias e secas, olhando
para a realidade do país a construção de infraestruturas hidráulicas de diferentes
capacidades ao longo das bacias é uma ação incontornável devendo figurar como
estratégico para o desenvolvimento. Assim, sugere-se que as ações para a prevenção de
inundações e de estiagem para o país ganhem primazia em diferentes fóruns que visem melhorar as
condições socioeconômicas, incorporando-se no rol dos principais desafios rumo
ao desenvolvimento. Pois, além dos problemas acima citados, as inundações podem concorrer para o agravamento das condições de saneamento e consequente proliferação das doenças de veiculação hídrica. Por outro lado, as secas podem impactar negativamente a agricultura familiar e ao sector de água e saneamento nas comunidades.
Sugere-se maior dinamismo e capacidade cognitiva
nessa integração regional que defende a equidade nos
benefícios e sustentabilidade dos recursos, bem como o bom senso na resolução dos problemas enfrentados, com vista a evitar
a pressão sobre os mais fracos. Pois, um protocolo que entrou em vigor 2003,
dez anos depois poderia surtir efeitos positivos no país, mas
ainda continua a enfrentar as mesmas dificuldades na gestão de cursos de águas
compartilhados.
Como
a gestão de águas transfronteiriças é um assunto altamente complexo novas
medidas e estratégias são solicitadas, daí que entidades como International
Network of Basin Organizations (INBO) e Global Water Partnership (GWP), que em
conjunto produziram um manual sobre “Gestão
Compartilhada de Bacias Hidrográficas”, onde estão grafadas informações práticas
e relevantes sobre o assunto podem auxiliar no alcance duma gestão
compartilhada almejada.
Contudo,
é importante que as informações patentes nesse manual e em outras fontes, sejam
transformadas em prática de modo a inverter o cenário em que o país
está nele inserido atualmente. Assim, há necessidade de aprimorar e dinamizar as atuais estratégias para flexibilizar o mirado desenvolvimento do povo moçambicano.
Referências
Direção
Nacional de Águas (DNA). Política de
Águas. Ministério das Obras Públicas de Moçambique, 2007
MAFUTA,
Clever. Recursos hídricos compartilhados
críticos para a integração regional.
Zambezi, volume 6. Nº 2. Disponível em: <www.sardc.net> Acessado em:
03-01-2013
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